terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Marca 4 - Uma Compreensão Bíblica quanto à Conversão

Na primeira reunião da nossa igreja, em 1878, nós adotamos uma declaração de fé. Era uma versão fortalecida da Confissão de New Hampshire de 1833. Esta confissão tornou-se a base para a Baptist Faith and Message (“Fé e Mensagem Batista”) adotada pela Convenção Batista do Sul em 1925 e novamente, em uma versão revisada e enfraquecida, em 1963. Em nossa declaração de fé, o Artigo VIII diz o seguinte:
Nós cremos que o Arrependimento e a Fé são deveres sagrados, e também graças inseparáveis, forjadas em nossas almas pelo regenerador Espírito de Deus; pelo qual tendo sido profundamente convencidos de nossa culpa, perigo e desamparo, e do caminho da salvação por Cristo, nós nos voltamos a Deus com sincera contrição, confissão, e súplica por misericórdia; recebendo simultaneamente de todo coração o Senhor Jesus Cristo como nosso Profeta, Sacerdote e Rei, e confiando somente nEle como o único e todo suficiente Salvador.
Note o que esta declaração diz sobre nossa conversão, nossa guinada na vida. Nós nos voltamos porque estamos "profundamente convencidos de nossa culpa, perigo e desamparo, e do caminho da salvação por Cristo". E como essa guinada, que é composta de arrependimento e fé, acontece? É "forjada em nossas almas pelo regenerador Espírito de Deus". A Declaração cita então dois textos bíblicos para apoiar esta idéia: Atos 11:18: " E, ouvindo eles estas coisas, apaziguaram-se e glorificaram a Deus, dizendo: Logo, também aos gentios foi por Deus concedido o arrependimento para vida." e Efésios 2:8, " Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus". Se a nossa conversão for entendida basicamente como algo que nós fazemos a nós mesmos em vez de algo que Deus faz em nós, então entendemos tudo errado. A conversão certamente inclui a nossa ação, nós temos que fazer um compromisso sincero, uma decisão auto-consciente. Mesmo assim, conversão é muito mais que isso. A Bíblia claramente ensina que nós não estamos todos buscando a Deus, sendo que alguns acharam o caminho, enquanto outros ainda estão procurando. Pelo contrário, ela nos apresenta como pessoas que precisam ter seu coração substituído, sua mente transformada, seu espírito vivificado. Nada disso nós podemos fazer. Podemos assumir um compromisso, mas precisamos ser salvos. A mudança que cada pessoa necessita, independentemente de como parecemos ser exteriormente, é tão radical, tão próxima do âmago de cada um de nós, que só Deus pode executá-la. Nós precisamos de Deus para nos converter.

Lembro-me de uma história de Spurgeon em que ele conta como ele estava entrando em Londres quando um homem bêbado aproximou-se dele, apoiou-se em poste próximo e disse, "Ei, Sr. Spurgeon, eu sou um dos seus convertidos!" Ao que Spurgeon respondeu: "Você deve mesmo ser um dos meus - certamente você não é um dos convertidos do Senhor!"
Uma conseqüência de compreender mal o ensino bíblico sobre a conversão pode bem ser que as igrejas evangélicas estão cheias de pessoas que fizeram compromissos sinceros em certo ponto das suas vidas, mas que evidentemente não experimentaram a mudança radical que a Bíblia apresenta como conversão. De acordo com um recente estudo da Convenção Batista do Sul, os batistas do sul (a minha própria denominação) têm uma taxa de divórcio que realmente supera a média nacional na América. A causa de tal “testemunho às avessas” entre os que são considerados seguidores de Cristo deve ser, pelo menos em parte, uma pregação não-bíblica sobre a conversão.
Certamente a conversão não precisa ser uma experiência emocionalmente acalorada, mas precisa ser provada pelo seu fruto para ver se é de fato o que a Bíblia considera verdadeira conversão. Entender a apresentação bíblica do que é conversão é uma das marcas de uma igreja saudável.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Marca 3 - Uma Compreensão Bíblica quanto às Boas Novas

É particularmente importante que se tenha uma teologia bíblica em uma área especial da vida da igreja: a nossa compreensão a respeito das boas novas de Jesus Cristo, o evangelho. O evangelho é o coração do cristianismo, e por isso deveria ser o coração da nossa fé. Todos nós como cristãos deveríamos orar para que nós nos preocupássemos mais com as maravilhosas boas novas da salvação em Cristo do que com qualquer outra coisa na vida da igreja. Uma igreja saudável está repleta de pessoas que têm um coração voltado para o evangelho, e ter um coração voltado para o evangelho significa ter um coração voltado para a verdade: para a apresentação de Deus a respeito dEle mesmo, para a nossa necessidade, para a provisão de Cristo, e para a nossa responsabilidade.
Quando apresento o evangelho a alguém, eu tento me lembrar de quatro pontos: Deus, o homem, Cristo e a resposta. Eu me pergunto: Compartilhei com esta pessoa a verdade sobre nosso Santo Deus e Soberano Criador? Deixei claro que nós, como seres humanos, somos uma estranha mistura: criaturas criadas à imagem de Deus e no entanto decaídas, pecadoras e separadas dEle? A pessoa com quem estou falando entende quem é Cristo - o Deus-Homem, o único mediador entre Deus e o homem, nosso substituto e Senhor ressurreto? E finalmente, mesmo que eu tenha compartilhado tudo isso com ele, será que ele entendeu que precisa responder ao evangelho, que ele tem que acreditar nesta mensagem e assim abandonar sua vida de egocentrismo e pecado?

Apresentar o evangelho como um aditivo para dar aos não-cristãos algo que naturalmente já desejam (alegria, paz, felicidade, realização, auto-estima, amor) é parcialmente verdadeiro, mas só parcialmente verdadeiro. Como J. I. Packer diz, "uma meia-verdade disfarçada em verdade inteira torna-se uma mentira completa". Fundamentalmente, todo mundo precisa de perdão. Nós precisamos de vida espiritual. Apresentar o evangelho menos radicalmente do que isso é pedir falsas conversões e uma membresia de igreja irrelevante. Tanto uma coisa como a outra tornam a evangelização do mundo ao nosso redor ainda mais difícil.

Nossos membros de igreja espalhados pelas casas, escritórios e vizinhanças vão, neste mesmo dia, entrar em contato com muito mais não-cristãos, por muito mais tempo, do que eles gastarão com cristãos em um domingo qualquer. Cada um de nós possui tremendas novas de salvação em Cristo. Não troquemos isso por qualquer outra coisa. E compartilhemos isso hoje! George W. Truett, grande líder Cristão da geração passada e pastor de Primeira Igreja Batista em Dallas, Texas, disse:

A suprema acusação que você pode trazer contra uma igreja. . . é que aquela igreja tem pouca paixão e compaixão pelas almas humanas. Uma igreja não é nada melhor que um clube ético se sua compaixão pelas almas perdidas não é transbordante, e se ela não sai para tentar levar almas perdidas ao conhecimento de Jesus Cristo.

Uma igreja saudável conhece o evangelho, e uma igreja saudável o compartilha.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Marca 2 - Teologia Bíblica

Pregação expositiva é importante para a saúde de uma igreja. Entretanto, todo método, por melhor que seja, está sujeito a abuso e, portanto deve estar aberto a ser testado. Em nossas igrejas, deveríamos nos preocupar não só em como somos ensinados, mas com o que somos ensinados. Deveríamos apreciar o caráter são, particularmente em nossa compreensão do Deus bíblico e dos seus caminhos para conosco.
"Sanidade" é uma palavra antiquada. Nas cartas pastorais de Paulo a Timóteo e a Tito, "são" significa confiável, preciso ou fiel. Em sua raiz etimológica é uma figura do mundo médico que significa inteiro ou saudável. Lemos em 1 Timóteo 1 que a sã doutrina é amoldada pelo evangelho e que ela se opõe à impiedade e ao pecado. Ainda mais claramente, em 1 Timóteo 6:3, Paulo contrasta as "falsas doutrinas" com as "sãs palavras de nosso Senhor Jesus Cristo e. . . o ensino segundo a piedade". Assim, na sua segunda carta a Timóteo, Paulo exorta Timóteo a manter “o padrão das sãs palavras que de mim ouviste” (II Timóteo 1:13). Paulo adverte Timóteo de que "haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão de mestres segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos” (II Timóteo 4:3).
"Se nós fôssemos expor aqui tudo o que constitui sã doutrina, teríamos que reproduzir a Bíblia inteira."
Quando Paulo escreveu a outro jovem pastor – Tito - ele tinha preocupações semelhantes. Quem quer que Tito designasse como um presbítero, diz Paulo, teria que ser “apegado à palavra fiel, que é segundo a doutrina, de modo que tenha poder tanto para exortar pelo reto ensino como para convencer os que o contradizem” (Tito 1:9). Paulo insta Tito a reprovar falsos mestres “para que sejam sadios na fé” (Tito 1:13). E também ordena a Tito: "Tu, porém, fala o que convém à sã doutrina" (Tito 2:1).

Se nós fôssemos expor aqui tudo o que constitui sã doutrina, teríamos que reproduzir a Bíblia inteira. Mas, na prática, toda igreja decide quais são os assuntos em que precisa haver total acordo, quais admitem limitada discordância, e em quais pode haver total liberdade.
Na igreja em que ministro, em Washington DC, nós definimos que qualquer pessoa que deseje ser membro deve acreditar na salvação pela obra de Jesus Cristo apenas. Também confessamos as mesmas (ou bastante parecidas) convicções quanto ao batismo do crente e ao governo da igreja. Uniformidade nestes dois pontos não é essencial à salvação, mas acordo neles é útil na prática e saudável para a vida da igreja.

Pode-se permitir alguma discordância sobre assuntos que não parecem ser necessários à salvação, nem à vida prática da igreja. Assim, por exemplo, apesar de todos nós concordamos que Cristo voltará, não ficamos surpresos ao perceber que há discordância entre nós quanto ao momento certo do Seu retorno. Pode-se desfrutar de total liberdade em assuntos ainda menos centrais ou de pouca clareza, como a validade da resistência armada, ou a autoria do livro de Hebreus.

Em tudo isso, o princípio deve estar claro: quanto mais próximos chegarmos ao coração da nossa fé, mais devemos esperar ver nossa unidade expressa em um entendimento compartilhado dessa fé. A igreja primitiva colocou este princípio da seguinte forma: no essencial, unidade; no não essencial, diversidade; e em tudo amor.

O ensino saudável inclui um compromisso claro com doutrinas freqüentemente negligenciadas, porém claramente bíblicas. Para que possamos aprender a sã doutrina da Bíblia, nós precisamos encarar doutrinas que podem ser difíceis, ou até mesmo potencialmente divisionistas, mas que são fundamentais para compreendermos o trabalho de Deus entre nós. Por exemplo, a doutrina bíblica da eleição é freqüentemente evitada por ser considerada muito complexa, ou muito confusa. Seja como for, é inegável que esta doutrina é bíblica, e que é importante. Enquanto possa ter implicações que nós não entendemos plenamente, não é algo pequeno considerar que nossa salvação no final das contas procede de Deus em vez de nós mesmos. Outras perguntas importantes cujas respostas bíblicas também vêm sendo negligenciadas:

• Pessoas são basicamente ruins ou boas? Elas precisam tão somente de encorajamento e de um aumento de auto-estima, ou elas precisam de perdão e nova vida?
• O que Jesus Cristo fez morrendo na cruz? Ele tornou possível uma opção, ou Ele foi nosso substituto?
• O que acontece quando alguém se torna um cristão?
• Se nós somos cristãos, podemos estar seguros de que Deus continuará cuidando de nós? Neste caso, o Seu cuidado contínuo baseia-se em nossa fidelidade, ou na dEle?

Todas estas perguntas não são simplesmente questões para teólogos eruditos ou para jovens estudantes de seminário. Elas são importantes para todo cristão. Aqueles de nós que são pastores sabem quão diferentemente nós pastorearíamos nosso povo se nossa resposta a qualquer uma destas perguntas fosse alterada. Fidelidade às Escrituras exige que nós falemos sobre estes assuntos com clareza e autoridade.

Nosso entendimento do que a Bíblia ensina a respeito de Deus é crucial. O Deus Bíblico é Criador e Senhor; e ainda assim Sua soberania às vezes é negada até mesmo dentro da igreja. Cristãos confessos que resistem à idéia da soberania de Deus na criação ou na salvação estão, na verdade, brincando com um paganismo piedoso. Muitos cristãos têm questionamentos honestos sobre a soberania de Deus, mas uma negação contínua, tenaz, da soberania de Deus deveria nos deixar preocupados. Batizar uma pessoa assim, pode significar o batismo de um coração que ainda é de algum modo incrédulo. Admitir tal pessoa na membresia significa tratá-la como se ela confiasse em Deus, quando na verdade ela não confia.

Por mais perigosa que tal resistência seja em um cristão qualquer, ela é ainda mais perigosa no líder de uma congregação. Designar como líder uma pessoa que duvida da soberania de Deus ou que entende mal o ensino bíblico sobre esses assuntos é colocar como exemplo uma pessoa que pode estar muito pouco disposta a confiar em Deus. Tal indicação está fadada a ser um forte obstáculo para a igreja.

Atualmente a nossa cultura freqüentemente nos encoraja a transformarmos o evangelismo em propaganda e explica a obra do Espírito em termos de marketing. O próprio Deus às vezes é moldado à imagem do homem. Em tempos assim, uma igreja saudável deve ter um cuidado especial em orar por líderes que tenham uma compreensão bíblica e experimental da soberania de Deus e um compromisso com a sã doutrina, em sua absoluta glória bíblica. Uma igreja saudável é marcada pela pregação expositiva e por uma teologia bíblica.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Marca 1 - Pregação Expositiva

O ponto para começar a falar sobre as marcas da igreja saudável é onde Deus começa conosco – o modo como Ele fala conosco. Foi por aí que a nossa própria saúde espiritual veio, e é por esse caminho que a saúde de nossas igrejas virá também. Especialmente importante para qualquer um que esteja na liderança de uma igreja, mas particularmente para o pastor, é um compromisso com a pregação expositiva, um dos mais antigos métodos de pregação. Trata-se da pregação cujo objetivo é expor o que é dito em uma passagem particular da Bíblia, explicando cuidadosamente seu significado e aplicando-o à congregação (veja Neemias 8:8). Existem, evidentemente, muitos outros tipos de pregação. Sermões tópicos, por exemplo, coletam tudo o que a Bíblia ensina sobre um único assunto, como a oração ou a contribuição. A pregação biográfica aborda a vida de alguém na Bíblia e retrata-a como uma demonstração da graça de Deus e como um exemplo de esperança e fidelidade. Mas a pregação expositiva é algo diferente - uma explicação e aplicação de uma porção particular da Palavra de Deus.
A pregação expositiva presume uma convicção na autoridade da Bíblia, mas é algo mais. Um compromisso com a pregação expositiva é um compromisso de ouvir a Palavra de Deus. Assim como os profetas do Antigo Testamento e os apóstolos do Novo Testamento não receberam apenas uma ordem para ir e falar, mas uma mensagem específica, os pregadores cristãos de hoje têm autoridade para falar da parte de Deus somente se proclamarem as palavras dEle. Assim, a autoridade do pregador expositivo começa e termina com as Escrituras. Às vezes as pessoas podem confundir pregação expositiva com o estilo de um pregador expositivo predileto, mas não é fundamentalmente uma questão de estilo. Como outros já observaram a pregação expositiva não é tanto sobre como nós dizemos o que dizemos, mas sobre como nós decidimos o que dizer. Não é marcada por uma forma particular, mas por um conteúdo bíblico.

Pode-se aceitar alegremente a autoridade da Palavra de Deus e até mesmo professar a convicção na inerrância da Bíblia; ainda assim se na prática (propositalmente ou não) alguém não prega expositivamente, nunca pregará além do que já sabe. Um pregador pode tomar um trecho das Escrituras e exortar a congregação em um tópico que é importante sem que ele realmente pregue o ponto abordado na passagem. Quando isso acontece, o pregador e a congregação só ouvem nas Escrituras o que eles já sabiam.

Em contrapartida, quando pregamos uma passagem das Escrituras no contexto, expositivamente - tomando o ponto da passagem como o ponto da mensagem - nós ouvimos de Deus coisas que nós não pretendíamos ouvir quando começamos. Desde a chamada inicial ao arrependimento até a área de nossas vidas em que o Espírito nos condenou recentemente, a nossa salvação inteira consiste em ouvir a Deus de modos que nós, antes de ouvi-lO, nunca teríamos adivinhado. Esta submissão extremamente prática à Palavra de Deus deve ser evidente no ministério de um pregador. Não se deixe enganar: em última instância, é responsabilidade da congregação assegurar que as coisas sejam assim (observe a responsabilidade que Jesus põe sobre a congregação em Mateus 18, ou Paulo em 2 Timóteo 4). Uma igreja jamais pode colocar como supervisor espiritual do rebanho uma pessoa que não demonstra na prática um compromisso claro em ouvir e ensinar a Palavra de Deus. Agir assim é impedir inevitavelmente o crescimento da igreja, praticamente encorajando-a a só crescer até o nível do pastor. Se assim for, a igreja será conformada lentamente à mente dele, em vez de ser conformada à mente de Deus.

O povo de Deus sempre foi criado pela Palavra de Deus. Da criação em Gênesis 1 até a chamada de Abraão em Gênesis 12, da visão do vale dos ossos secos em Ezequiel 37 até a vinda da Palavra Viva, Deus sempre criou o Seu povo através da Sua Palavra. Como Paulo escreveu aos romanos, “a fé vem pela pregação, e a pregação, pela palavra de Cristo” (10:17). Ou, como ele escreveu aos coríntios, "Visto como, na sabedoria de Deus, o mundo não o conheceu por sua própria sabedoria, aprouve a Deus salvar os que crêem pela loucura da pregação" (1 Cor. 1:21).

A pregação expositiva sadia freqüentemente é o manancial de crescimento em uma igreja. Na experiência de Martinho Lutero, tal atenção cuidadosa para com a Palavra de Deus foi o princípio da reforma. Nós também precisamos estar comprometidos em sermos igrejas que sempre estão sendo reformadas de acordo com a Palavra de Deus.

Certa vez, quando eu estava ensinando em um seminário sobre puritanismo em uma igreja de Londres, eu mencionei que os sermões puritanos às vezes duravam duas horas. Diante disso, uma pessoa perguntou, "Quanto tempo sobrava para a adoração?" A suposição era de que ouvir a palavra de Deus pregada não constituía adoração. Eu respondi que muitos cristãos protestantes ingleses teriam considerado a possibilidade de ouvir a palavra de Deus no seu próprio idioma e de responder a ela nas suas vidas como a parte essencial da sua adoração. Se eles teriam tempo para cantar juntos seria comparativamente de pouca importância.

Nossas igrejas têm que recuperar a centralidade da Palavra na nossa adoração. Ouvir a Palavra de Deus e responder a ela pode incluir louvor e ações de graças, confissão e proclamação, e qualquer destas coisas pode vir na forma de canções, mas nenhuma delas precisa ter essa forma. Uma igreja construída sobre a música – seja qual for o estilo - é uma igreja construída sobre a areia. Pregar é o componente fundamental do pastorado. Ore por seu pastor, para que ele se dedique a estudar Bíblia rigorosa, cuidadosa e seriamente, e para que Deus o conduza na compreensão da Palavra, na aplicação dela à sua própria vida, e na aplicação dela à igreja (veja Lucas 24:27; Atos 6:4; Ef. 6:19-20). Se você é um pastor, ore por estas coisas para si mesmo. Ore também por outros que pregam e ensinam a Palavra de Deus. Finalmente, ore para que nossas igrejas assumam um compromisso de ouvir a Palavra de Deus pregada expositivamente, de forma que os rumos de cada igreja sejam crescentemente moldados pela agenda de Deus expressa nas Escrituras. O compromisso com a pregação expositiva é uma marca de uma igreja saudável.


Fonte: Extraído do livreto disponível online: 9 Marks of a Healthy Church (Booklet)

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Proibida a Entrada de Pessoas Perfeitas

Em uma de minhas viagens de ônibus para o seminário um fato me chocou e chamou a atenção.Existia um jovem que se fantasiava de palhaço para ganhar a simpatia dos passageiros e com isso defender alguns trocados com a venda de canetas dentro dos ônibus. O nome dele era “palhaço pipoca”. Nesse dia o pipoca estava sem um dos braços, devido ao tratamento contra o câncer. Uma senhora dentro do ônibus comentou com outro passageiro que sentia muita pena dele. Era uma senhora evangélica. E comentou que queria levá-lo em um dos cultos de sua denominação, antes que ele viesse a morrer com aquela enfermidade, pois ele precisava ter um encontro com Jesus. O passageiro interessado na benevolência da senhora disse que sabia onde o palhaço pipoca morava, e que ele vivia com o amante no setor Alphaville, saída para Abadia de Goiás. O pipoca, além de canceroso era homossexual.A senhora mudou o semblante instantaneamente, balançou a cabeça de forma negativa e disse: - Desse jeito é muito difícil ajudar!No restante da viagem fiquei pensando: qual seria a minha reação se entrasse pelas portas da igreja que estava pastoreando um roqueiro, um homossexual, um budista ou um casal que vive junto, mas não são casados?Estranho pensar sobre essas coisas. Mas estranho ainda e ver qual era a atitude de Jesus frente às pessoas rejeitadas. Jesus saía com cada uma!Jesus comia com publicanos e pecadores, conversava com prostitutas e as convidava a sair da vida de pecado, almoçava na casa de ladrões, lembra de Zaqueu? Pois é, Jesus agia de forma estranha em relação a esse tipo de gente. E ainda dizia que não tinha vindo para os sadios, mas para os doentes (Mateus 9:9-13). Jesus olhava para os sofrimentos das pessoas e se comovia, pois como Ele mesmo falava “eram como ovelhas sem pastor” (Mateus 9:36).Quer saber de uma coisa, essas ações de Jesus nos incomodam! Ainda mais porque somos chamados para sermos seus imitadores. O apóstolo João em sua primeira carta endereçada a igreja de Éfeso diz: “Se alguém afirmar: “Eu amo a Deus” mas odiar seu irmão, é mentiroso, pois quem não ama seu irmão a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê” (I João 4:20).Depois que eu saí daquele ônibus imaginei minha igreja como um grande hospital e em sua entrada um grande letreiro fixado para que todos pudessem ler inclusive o palhaço pipoca: PROIBIDA A ENTRADA DE PESSOAS PERFEITAS.